quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"L'elisir d'amore" II

E que tal o Elixir, perguntar-me-ão. Bom, muito bom. Os cantores, irrepreensíveis. Souberam levar o seu barco a bom porto (arrepiei-me várias vezes - o meu barómetro pessoal de qualidade). O Coro de Câmara Lisboa Cantat, justiça lhe seja feita, teve melhores momentos que o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Definitivamente, não estávamos perante trabalho amador, antes pelo contrário; perceberam-se as horas e horas de ensaio que estiveram por detrás desta produção.

Produção que não choca por vermos uma aldeã em fato de banho, agarrada a um computador portátil. Talvez choquem as pequenas incoerências - o cd que se recebe quando se deveriam receber uma carta, ou um perfume em vez de uma flor. Mas como a Teresa diz, e bem, poucas coisas na Ópera fazem sentido. No entanto, não percebo porque é que nestas novas produções tem sempre de aparecer uma hélice barra ventoínha gigante barra o que lhe quiserem chamar. Juro que não percebo - podem aproveitar e explicar-me. E já agora que barras eram aquelas, quando Nemorino cantava Uma furtiva lágrima?

Uma
, e não Una, porque toda a ópera foi traduzida para português. De antemão avisado pela Teresa, que ajudou que o susto não fosse maior. Mas confesso - não me chocou minimamente. A tradução não era má, de todo, e conseguiram-se boas sonoridades na Língua Portuguesa. Chocar-me-ia mais o desrespeito pela partitura, que o desrespeito pelo libretto.

Desrespeito pelos artisas terá havido. Não se bateram palmas à entrada do maestro e uma sala que metia dó. Tudo juntinho no primeiro balcão talvez o enchessem.

Certo é que o Elisir tem um força pujante. Verdadeira música popular, mas de qualidade - entra nos ouvidos e de lá não sai. Saí de lá a cantarolar (mal, claro). Como não tinha nenhuma gravação completa da ópera pensei em correr à Fnac mais próxima e comprá-la. Bati com o nariz na porta - estava a fechar. Mas há mais Fnacs nesta cidade. Lá, o pânico, o horror. Não tinham a da Sutherland com o Pavarotti (muito mais por ela que por ele, confesso). E nestas coisas, ou se se compra o melhor, ou não se compra. Tinham uma com a Kathleen Battle, igualemente com o Pavarotti, mas eu querida mesmo era a da Sutherland. Outra com o Di Steffano, mas o soprano não me dizia nada (sim, confesso, compro sempre em função do soprano, não tenho culpa de gostar mais de vozes femininas). Eis senão quando olho melhor - e será que estou a ler bem? Tinham um Elisir com a Bidu Sayão! Ora a Bidu Sayão não é estupenda, nem sequer divina. Mas tem um timbre que eu adoro, e ainda por cima, não tinha nada com ela. Claro que veio comigo para casa.

Curiosamente, estavam a passar na Fnac o Maria, da Cecília Bartoli. Que eu não tenho, só em cd. E por alguma razão é... Está mais magra, veste um pouco melhor... mas as mesmas caras de sempre (sim, Teresa, essas) e... aquele cabelo? O que é aquele cabelo?* Mas coração que não vê.... coração que não sofre. E para a ouvir, gosto bastante. Não tem uma voz potente, mas em agilidade**....

Mas bom, bom mesmo, foi chegar a casa e ter o mail com o L'Elisir d'amore, com Dame Joan Sutherland e Pavarotti!

*Pior, pior mesmo, só algumas capas dos cds de Dame Kiri Te Kanawa, já com o devido desconto de ser vintage...
** Comecei a ouvir ópera em 1997; em 2002 ou 3, não me recordo, passaram um recital da Bartoli na Rtp - ninguém que eu conhecesse, que gostasse de ópera a conhecesse, mas também nenhum expert como a Teresa...

3 comentários:

Teresa disse...

Telegraficamente:

Excelente crítica, Pedro, concordo com tudo, excepção feita à sua observação do coro de S. Carlos, que considero fabuloso.

Também não percebi as mesmíssimas coisas: o hélice e as barras. Devemos ser muito estúpidos, ou muito ignorantes... :)

Estou a mandar o resto do L'Elisir para o endereço do blogue, e parece estar a seguir sem problemas.

Beijo.

David disse...

Podia ter sido pior. Já estou a imaginar: "Ummmmmmmmmaaa lááááágrima nOoOoOo cantooooooo do OlhooooOooooo" numa criativa tradução de "Una fortiva lagrima".

Se bem que ouvir alguém cantar "Checca" (queca) tem a sua piada...

David disse...

E reparem bem no que ele canta aos 5:20