terça-feira, 25 de novembro de 2008

It’s a Sony

Pensava que seria a minha reconciliação com Kátia Guerreiro. Durante bastante tempo foi uma das minhas fadistas favoritas, tendo assistido a vários dos seus concertos – no S. Luís (salvo erro por duas vezes), o mítico no CCB, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, no Dia Internacional da Música. E um desastroso no Castelo de São Jorge, em plenas Festas da Cidade. Desastroso porque se percebeu o quão artificial e ensaiado tinha sido – uma cópia integral do último concerto – as mesmas cadências, os mesmos (poucos) trinados, as notas cantadas ad eternum, as mesmas graças com guitarristas e baixista... E se fado é emoção, não se compadece nem de ensaios nem de artificialismos, mas sim de sentimentos e improvisos.


E ontem, o seu concerto de apresentação do seu novo trabalho, Fado, no Teatro Tivoli,de facto, não chegou. Kátia está com uma capacidade vocal tremenda (apesar dos sobreagudos continuarem sofríveis, mas também não precisa deles para nada!) e bastante mais afinada (apesar do início se notar o nervosismo num vibrato que não é o dela).
Mas, se desta vez não abusou das notas ad eternum, usou e abusou do fortissimo. Aliás, cantou fados inteiros em fortissimo. Levando, como é óbvio, a audiência ao extâse. Mas eu, que tenho alguma formação em piano e não em orgão, não me compadeço de aplausos fáceis – o que para mim tal pode significar. Portanto, interpretação propriamente dita, não houve. O que é uma pena, pois Kátia estava visivelmente emocionada e tem capacidades para isso. E cantar sempre em fortissimo traz outros problemas – as frases ficam cortadas a meio, pois já não mais ar para continuar – os poemas perdem logo metade da beleza – e a escolha destes para o novo álbum foi muito boa, sobretudo os de Tavares Rodrigues e Paulo Valentim. O corte e costura de Florbela Espanca e Carlos Ramos não me convenceu – Carlos do Carmos faz isso desde sempre e essa é uma das razões que não me faz gostar dele.


Tenho também de dizer que não gostei da apresentação inicial – um artista não tem de justificar a sua obra nem as suas escolhas. Não sei se fez isso por modéstia, ou para mostrar que fez o trabalho de casa. E gostavamos mais da sua imagem de antigamente embora isso, num concerto de fado, seja absolutamente irrelevante. Tal como o jogo de luz, que estava fantástico.


Kátia é agora uma Sony Artist, como teve o prazer de nos revelar. Eu vou continuar a segui-la, apesar de este texto parecer exactamente o contrário. Porque acredito nas suas capacidades de interpretação e reeinvenção. Creio absolutamente que será capaz e espero não me enganar.


Para ouvirmos, Segredos, poema e música de Paulo Valentim, do álbum Nas mãos do Fado.


Kátia Guerreiro - Segredos

1 comentário:

José Daniel Ferreira disse...

Excelente critica. Estive no concerto e subscrevo quase na totalidade o que disseste. Faltou-te dizer uma coisa. Ela fala demais e sem interesse nenhum. E é muito chata a falar... com muitas pausas.
Não concordo com a iluminação. Criou demasiada distracção.

De resto, posso concordar em tudo.

Trés Bien