sábado, 20 de dezembro de 2008

Das Peruas

Não, não é dessas que vou falar. Até porque o que há para falar dessas, está à vista e não fica muito mais por dizer.

Ontem saí do trabalho para ir à caça de um perú para o Dia de Natal, que soube apenas ontem que irá ser cá em casa. Se pouco ligamos à véspera, não havendo praticamente consoada (nem sequer prato fixo de bacalhau - tudo menos cozido e com todos, que cá em casa é tudo gente de respeito), no dia 25 almoçamos sempre perú recheado, receita de uma senhora francesa que há muitos anos deu a receita à Avó e deste então foi adoptada para os Natais vindouros.

Mas voltando à perua fria (que cá em casa come-se o perú frio), ela não tem segredos para mim. Anos e anos fui eu que ajudei a Mãe a preparar o perú, portanto sem qualquer tipo de dúvidas.

No entanto, nunca tinha sido eu a comprar o perú. E percebi que tem o seu quê.

A maior parte dos perús à venda têm todos para lá de seis quilos. E até os chamam de peruas, logo, mais pequenas. Mas convenhamos, tirando as famílias grandes, quem é que compra um perú de seis quilos, sobretudo se leva, pelo menos, mais dois quilos de recheio?

E o drama maior não é ficar a comer perú todo o mês de janeiro (eu cá chamo-lhe um figo!), é ter espaço na arca congeladora para o dito caber. Inteiro.

Pois bem, lá descobri uma perua de 3,5Kg (somos seis cá em casa, chega e vai sobrar certamente). E por acaso com melhor ar que as outras de seis quilos e tal, que pareciam ter sido vítimas de violência doméstica (ou que levaram com uma porta em cima, que é a mesma coisa), de tão arroxeadas que estão. Mas, qual é o meu espanto, quando percebo que a perua é espanhola!!! Ainda por cima, com a depilação praticamente toda por fazer - horas a depená-la. Portanto dois mitos que se vão: que as espanholas são avantajadas e que têm preocupações estéticas.

Lá vim eu com a perua (só faltou a alcofa para parecer que vinha da província). O problema foi chegar a casa e perceber que a perua não cabia na arca... Lá coube no congelador do frigorífico, do qual tive de tirar a prateleira para caber.

Longe vai o tempo em que se comprava o perú vivo, trazia-se para casa e o embebedava-se para facilitar a estocada mortal (e tornar a carne mais saborosa). Relatos correm na família de perús estrebuchantes, salpicando cozinhas para qualquer cenário de filmes de terror de escalão B...Mas ainda que com toda a diferença, não deixa de ser uma saga complicada.

Para ouvir, a Valsa das Flores, do Quebra-Nozes, que tem o condão de me deixar bem disposto (e já que não tive tempo de terminar atempadamente, a viagem pela La Bayadère, e de começar a viagem pelo Quebra Nozes)


12 comentários:

Maria do Consultório disse...

Mamãe vai cozinhar perú com castanhas. Parece-me bem. Depois, vou comer croquetes de perú, empadas de perú e mais um sem fim de cozinhados que sabem todos ao mesmo...Merry Xmas!!!!

David disse...

Viva o Bacalhau e o cozido!

Mas está um lindo post sobre a "saga" da perua! :p

Adão disse...

É por estas situações, que prefiro comprar comida já feita. (gargalhada) Chamem-lhe "preguicite".
Mas há coisas que me fazem confusão... como esses "assassinatos" caseiros, que aconteceram já em casa também. Faziam-me confusão. E por isso, há certos animais que deixaram de fazer parte do meu menu!

Pedro disse...

Maria: então e empadão de perú, não?

David: à conta do post, já cá vieram à procura da diferença entre perú e perua. Talvez um post sobre abelhinhas desse resultado...

Adão: um saloio assumido a contentar-se com comida já feita? Até parece mal!

Adão disse...

(gargalhada) contento-me algumas vezes sim... culpado! (gargalhada)

ric@rdo disse...

lol
Ri-me com a saga. Sorri a imaginá-la. Cá em casa não se come perú. Nunca se comeu. Como família do Norte que se preza, é cabrito, o menu.

Pedro disse...

ric@rdo: não me lembro de ter comido outra coisa no Natal que não perú e com esta receita. Cabrito é na Páscoa!

Mad disse...

Lá em casa também se embebedava o desgraçado do peré com aguardente. Lembro-me tão bem de o ver de pescoço meio cortado aos ésses no pátio e a Rosa de facalhão na mão à espera da hora certa para dar o golpe da misericórdia! Nós, miúdos, adorávamos o espectáculo. Hoje em dia não me passaria pela cabeça fazer o mesmo.

Pedro disse...

Ó Maria, e que tal convidar o Ric@rdo para ir lá jantar? Assim como assim, deve ser dos poucos que não deve andar enjoado de perú nestes dias.

Mad: felizmente já não sou desse tempo, embora já tenho assistido a outras carnificinas. Realmente, a Sophia tinha razão

fada*do*lar disse...

Caro Pedro,
Este blog é uma delícia!
Um primor nos rituais e na prosa, e muito agradeço a honra do link à casa da fada :)

Todos os anos passo pela saga do perú (ou da perua..).
O primeiro que inocentemente comprei (há muuuuuitos anos) tinha uns meros 7 kgs! Pensei que endoidecia pois o bicho nem sequer cabia no forno.
Este ano marinei e recheei um passarôco de 5.5 kgs. Deu para 10 pessoas e para muitas sobras congeladas que me vão alimentar até Fevereiro...

Bom novo 2009! :D

Pedro disse...

Olá fada*do*lar! Até que enfim que tenho o prazer da tua visita (com direito a elogios e tudo - obrigado!). O teu blog há muito que faz parte da minha lista de preferências!

Feliz 2009!

fada*do*lar disse...

Ora bem: então somos oficialmente vizinhos, e com muito gosto!
Sim, vi que eras um follower, e muito agradeço mais uma vez.
Também já aqui vim bastantes vezes mas sempre sem tempo para dizer olá.
Não se faz, eheheheheh.