sábado, 21 de março de 2009

Solidão

"Mas afinal o que é isso a que chamamos solidão [...] não pode tratar-se simplesmente da ausência dos outros: podemos estar sozinhos e não nos sentirmos solitários, assim como podemos estar sozinhos e não nos sentirmo-nos sós. Então o que é? [...] Bom, não tem apenas a ver com o facto de outros lá estarem também, de ocuparem o espaço ao nosso lado. Mas mesmo que eles nos aprovem ou nos dêem um bom conselho numa conversa amigável, um conselho inteligente e sensível - mesmo então pode acontecer que nos sintamos sós. A solidão, portanto, não é algo que tenha a ver com a presença dos outros, nem com aquilo que eles fazem. [...]
Estou deitado ao lado dela, oiço a sua respiração, sinto o seu calor - e sinto-me terrivelmente sozinho. [...]
Quando os outros nos negam a afeição, o respeito e o reconhecimento, por que é que não podemos simplesmente dizer-lhes: não preciso disso, basto-me a mim próprio? O não sermos capazes de o fazer não representa uma horrivel forma de dependência? Não nos torna escravos dos outros?"
Pascal Mercier, Comboio Nocturno para Lisboa

2 comentários:

Adão disse...

Sim torna. Mas haverá outra maneira de não o ser? Não somos nós "animais sociais"? Eu gosto de ser solitário... mas odeio a solidão.

Pedro disse...

Eu não tenho respostas, só interrogações...