terça-feira, 12 de maio de 2009

Do Terreiro do Paço

As amizades entre vereadores e arquitectos dão nisto. Passamos de uma sala de recepção da cidade, ao quartinho dos fundos de qualquer casa da Quinta do Lago nos idos '90. Esquecem-se que não somos novos ricos, mas antes novos pobres.

As soluções à dézainer, desde o padrão Burberry, ao amarelinho do pavimento a fazer pendant com a pintura dos edifícios, à estátua de D. José, a fugir do Ministério das Finanças para o Ministério da Adminstração Interna, destruindo o efeito do arco da Rua Augusta, não sei o que será pior. (eu também fugia dali a sete pés).

Visita do Rei Afonso XIII de Espanha, 1903. Arquivo Fotográfico CML©


Visita de Eduardo VII de Inglaterra, 1903. Arquivo Fotográfico CML©


Visita da Rainha Alexandra de Inglaterra, 1905. Arquivo Fotográfico CML©


Visita de Émile Loubet, Presidente da República Francesa, 1905. Arquivo Fotográfico CML©


12 comentários:

Mad disse...

A estátua não sai da posição em que está, é ilusão de óptica (confirmei no Observatória da Baixa). O chão é medonho, o saibro preocupa; mas, principalmente, falta verde.

Adão disse...

Concordo. Falta verde. Falta espaço de estar, de fruir, e mais que tudo falta alguma qualidade arquitectónica à coisa. Mas como sabemos, este tipo de propostas tendem a ser únicas. Isto é, há sempre alguém, que conhece alguém, que vai ganhar alguma coisa com alguém, a quem encomenda o projecto. Já tinha visto os 3D’s, mas não me tinha apercebido da questão da estátua. Erro crasso. Mau projecto. Esta questão faz-me lembrar a intervenção no mosteiro de Alcobaça do Byrne, onde alguns degraus da escadaria de acesso foram tapados pela nova praça, porque assim garantia uma harmonia. WTF? Quem? Onde? Como? Porque? Parece que não aprendemos com os erros, e voltamos a cometer os mesmos enganos do início do século passado (séc. XX) quando “restauramos” a Sé de Lisboa e o Castelo de S. Jorge (e ainda bem que deixaram cair por terra a obrigatoriedade de pintar todas as casas de Lisboa de branco!!! Ufa!).
Não querendo alongar-me muito no comentário… mas sabes qual é o mal Pedro? Em Portugal, 90% dos arquitectos não sabem trabalhar no e com o Património. A favor da verdadeira reabilitação urbana e da qualificação do espaço tendo como motor o património!

David disse...

A estátua parece-me que fica na mesma. Quanto ao chão até acho graça!

Só espero que cortem o trânsito, limpem as fachadas e mandem os ministérios dar uma volta.

Mas o que mais gostava era que me dessem lá um apartamento. ai ai (suspiro)

imagens

David disse...

Quanto ao verde, não o vejo como necessário. Não que fique mal, pelo contrário, mas vejamos Vila Viçosa: não tem árvores, nem calçada portuguesa e é uma praça tão ou mais bonita que o Terreiro do Paço.

Marie disse...

Sei que, sendo a capital do reino e tudo mais, devia eu conhecer tal espaço muito bem, mas não conheço (muito bem). Parece-me que as intervenções em espaços tão representativos como o terreiro do paço são sempre ingratas. Veja-se o que aconteceu nos Aliados. A verdade é que tudo diz mal do que está, mas quando surge um novo projecto, calma, que afinal assim é que está bem, esse projecto vai destruir o espaço, credo, que afronta. Não acho o projecto particularmente feliz, é verdade. Mas não me parece que vá piorar o espaço. O padrão Burberry só vai ser visível do Google Earth como tal. E realmente, o chão precisava de outro desenho e material, mas, ainda assim, não consigo achar o projecto mau de todo.

Pedro disse...

Mad: felizmente que é só ilusão. Eu não defendo totalmente o uso do verde. Fazem falta, sim, árvores, porque árvores são sombra (e por favor, palmeiras não - não me admirava nada e só confirmava a minha tese da Quinta do Lago)

Adão: o ponto principal é esse (não vou falar do amiguismo, até porque se tivesse de fazer alguma coisa cá em casa, também iria chamar um amigo arquitecto ou engenheiro. Mas bom.). A principal questão é o entendimento que se faz da praça, que é um espaço que é para se fruir.

Pedro disse...

David: concordo com o fechar ao trânsito e a limpeza das fachadas. A questão é que se se tirarem os ministérios, o que vão inventar para lá pôr? Uma venda de churros? E depois construir novos mamarrachos para enfiar os ministérios? Não, obrigado, já temos cá muito disso. (apesar de saber que o sol invade demasiado a fachada oeste da ala nascente e que é uma chatice para trabalhar).

Não queiras comparar a praça do palácio de Vila Viçosa com o Terreiro do Paço. Não só em termos de simbolismo - para todos os efeitos o Palácio de Vila Viçosa é propriedade privada, do Terreiro do Paço não podemos dizer o mesmo. Para além do espaço em si (a praça de Vila Viçosa cabe 4 vezes no Terreiro do Paço; em termos de volumetria (o PVV é pouco mais do que um corredor) e até em monumentalidade - no terreiro do paço, para além de uma estátua equestre, não tem arcadas, nem arcos. E lamento, mas tem calçada(antigamente era chão de terra batida) - que eu até nem faço questão para o Terreiro do Paço. Mas tem uma coisa - muito mais sombra e a solução encontrada para a iluminação do edifício dá uns óptimos assentos.

Pedro disse...

Marie: em parte estamos de acordo, como está agora, mesmo antes dos tapumes e das obras, não estava bem, de longe. Mas isso não é desculpa para não se fazer melhor. Aliás, já que é para fazer, é obrigatório fazer-se melhor.
Já não comento sequer os materiais, parece que aí estamos todos de acordo. Mas aumentar tanto os passeios, em detrimento da placa central não lhe retira monumentalidade? E aquela passadeira desde a Rua Augusta (que obrigatoriamente é interceptada pela estátua) até ao Cais das Colunas serve para quê? E qual é o interesse de se ver do Google? A arquitectura não é suposta ser à escala humana?

E eu não queria, mas sou obrigado a falar dos Aliados (que não conheço ao vivo, só de fotos). Obviamente que antigamente parecia o concurso de janelas floridas de Marvila, mas tinha uma grande vantagem: servia a sua principal função, a de praça. Parece que agora já tem uns bancos ou umas cadeiras... Mas um espaço tão vazio para quê? E que rotundas são aquelas na base das estátuas? É de um mau gosto atroz!

Pedro disse...

Adão, novamente: e o que fizeram à frente do Convento de Jesus em Setúbal, conheces?
E Arquitectos que recebem prémios por Politécnicos, onde os pavilhões para a prática da Educação Física não tinham balneários, tendo de ser reduzidos para se fazerem? Ah, pois é, disso ninguém fala!

Adão disse...

LOL Pedro... eu não posso falar muito... faço parte dessa corja imunda! lolololololol

Luís P. disse...

Não podia estar mais de acordo! É mais um crime de lesa património o que se propõe para a principal praça do país (gostem ou não o Terreiro do Paço foi desenhado para ser isso: a principal praça do país!). O piso é inenarrável (concordo absolutamente com o novo-riquismo e a infelicidade da coisa), num tom altamente discutível (porque não tão simplesmente o lioz que "fez" Lx?), com uma passerelle ridícula da Rua Augusta até ao Cais das Colunas (para o qual também propõem uma forma circular!!!). Sem falar do aumento extraordinário dos passeios que invadirá a linha recta delineada com as ruas da Baixa... Mas já na Praça D. João I ("da figueira") a pobre estátua equestre do Mestre de Aviz foi arrumada para debaixo do tapete (vulgo, um canto!)...

Fiquei doido quando vi aquilo no Expresso! Esta gente saberá o que é geometria? Saberão o que é uma praça real? Não percebo, juro que não percebo! Podem pôr as "linhas da cartografia renascentista portuguesa" onde bem lhes apetecer, o que não falta é sítio a precisar. Agora no Terreiro do Paço??? Pobre D. José que, para além das víboras, devia de calcar outras infelizes cabeças...

Abraço

Helena de Tróia disse...

O projecto só tem duas vantagens: restringir o transito automóvel e o alargamento dos passeios. o pavimento previsto não é o mais bonito (mas por alma de quem tirar a calçada portuguesa????), se faz falta verde, porque não plantar laranjeiras junto das arcadas? é uma árvore bonita típica de lisboa. A praça precisa de vida e não só durante as horas de expediente: debaixo das arcadas deveria haver mais dinamismo: lojas/espaços/restaurantes que estivesses abertos tardiamente para chamar pessoas, como a praça de Madrid, por exemplo.