segunda-feira, 26 de abril de 2010

Das tripas coração

No outro dia conversava com alguém e dizia-lhe que não há grande coisa a mudar na minha vida. Não sentiria grande tristeza se, nesse dia, ao deitar-me, não mais acordasse. Porque neste momento da minha vida, não sinto que tenha muitas mais metas a atingir. É certo que sempre tive dificuldade em projectar-me numa tela em branco, bem como os meus desejos e aspirações. Mas na realidade, tudo aquilo que possa eventualmente desejar neste momento soa-me a um conjunto sem fim de frivolidades. Porque, na realidade, já tenho tudo o que basta para ser (e sentir-me) mais do que feliz. Eventualmente, mais e melhor conhecimento. O que implicaria sim, mais viagens, mais tempo para ler, ouvir música, assistir a filmes e concertos. E sim, muitas frivolidades materiais. Que valem o que valem. Mas não morreria se não fizesse mais do que faço actualmente.

O problema muda de figura quando olho à minha volta. Quando as pessoas de quem gosto (muito) sofrem. Porque estão doentes, porque chegam ao fim do mês sem conseguir pagar todas as contas com os magros salários que recebem, porque sofreram um desgosto de amor. E se eu conseguia dormir sabendo que há fome em África, redes de escravatura humana no mundo e por aí fora, há noites em que custa adormecer, por saber que uma parte de mim, que são aqueles de quem gosto, não conseguem ter uma noite descansada. E são essas noites, que o rochedo que tento ser, se sente uma migalha de pó. E por mais que me multiplique, sei que não posso chegar a todo o lado, porque não tenho super-poderes. E perante a inevitabilidade da impossibilidade, o que fazer?

5 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito desta tua reflexão, mas não tenho resposta a essa tua pergunta. Nunca poderei tb ser feliz sem ver aqueles que amo felizes à minha volta. Mas eu, ao contrário do que tu dizes no início, ainda tenho muitos objectivos e tento reinventá-los todos os dias. Tento viver um dia de cada vez e ajudar quem posso, às vezes só com a minha presença, porque a felicidade não é um estado permanente, mas sim um ou vários momentos de partilha. kisses

xhiiii, exagerei!

mf disse...

Podes dar a mão, podes dar um conselho. Podes fazer qualquer coisa útil, por mais pequena que seja. Podes sorrir, podes contar uma história engraçada, podes ajudar a encontrar novos caminhos. Podes simplesmente ouvir, podes acolher. Podes dar um abraço. Podes estar presente...

Adão disse...

:s E eu com os meus problemas da treta... :s

Pedro disse...

Tulipa: sem dúvida que os momentos de partilha conseguem ser especiais :)

Mf: e depois de tudo isso feito e nós próprios nos continuamos a sentir desconsolados?

Adão: não acho necessariamente que haja problemas de primeira e de segunda. Obviamente que há coisas mais graves que outras, mas a dor é sempre uma dor, seja qual for o motivo.

Anónimo disse...

Aprendi muito