sábado, 5 de fevereiro de 2011

Black Swan - o filme


É um lugar comum falar deste filme, provavelmente o filme mais esperado deste ano. Mas na verdade filmes em que ballet esteja presente sempre me marcaram - The red shoes é um dos filmes da minha vida, devo tê-lo visto a primeira vez teria uns dez anos. Bastaria ter ballet, este bailado em particular (Tchaikovsky é, desde sempre, um dos meus compositores preferidos) e a interpretação de Natalie Portman (não me recordo se terei visto algum outro filme com ela). Alguns efeitos especiais magníficos, a banda sonora (a desconstrução das linhas melódicas do bailado). E apesar do final só poder ser aquele, ficamos até ao último instante verdadeiramente suspensos.

Não sei o que é dançar. Exercitar o corpo exausto, quebrado. Aguentar a exigência severa e fria dos professores de dança.

Mas andei no conservatório a aprender piano. Não é fácil, sobretudo se é inverno e está frio e os dedos gelados que se magoam em cada tecla, ter de repetir uma, duas, três, quarenta, cinquenta, as vezes que forem precisas cada compasso, retomando o início cada vez que há um pequeno deslize, recomeçando tudo de novo acrescentado um novo compasso, as dores nos pulsos pelos exercícios para tornar cada dedo separado e independente do resto da mão, com dedilhações que não lembram a ninguém; a insegurança de não sabermos ao certo o que está bem e o que está mal, porque tudo nos soa igual, porque não somos máquinas e é suposto a música verdadeiramente nos tocar e não a tocarmos nós. E numa idade em que a nossa experiência de vida é limitada (comecei a tocar piano aos 6 anos), é natural que não saibamos trabalhar os sentimentos que estão por detrás do processo criativo.

E no ballet, em que não basta a exigência física de um qualquer desportista, é necessário sentir. Cada movimento, cada gesto terá de expressão um sentimento que se quer tão verdadeiro quanto possivel. Só assim se poderá de facto atingir a perfeição. A técnica é essencial, porém apenas uma interpretação visceral permitirá a genialidade.

4 comentários:

Anónimo disse...

Um filme magnífico, é na minha
opinião "Another Year" de Mike
Leigh.
Este cisne negro, foi para mim
um patinho, e feio.
Maria

No paleio disse...

Gostei do filme e sobretudo desta sua passagem: "sobretudo se é inverno e está frio e os dedos gelados que se magoam em cada tecla".
Eu fiz ballet e na sala de aula havia sempre um pianista, que raramente falava, apenas obedecia ao César, o professor, de cada vez que ele ordenava "play it again!"

anónima benfiquista disse...

Haja alguém nesta blogosfera que não dilacere...
A excelente interpretação de Natalie Portman e a soberba banda sonora de Clint Mansell, com Tchaikovsky.
O Pipoco é atento nisto de dar prendas de Natal.

anónima benfiquista disse...

(...)"que não dilacere o filme..."
Era o que queria dizer.