terça-feira, 19 de abril de 2011

O padre Manel

O padre Manel foi quem casou os meus pais. Não sendo o padre da minha paróquia, acabei por só assistir a missas celebradas por si em circunstâncias especiais, como casamentos.

Lembro-me particularmente daquele, devia eu ter pouco mais de dez anos, em que na altura do sermão - os seus sermões eram conhecidos por serem ousados e sem papas na língua - referiu que, habitualmente, os homens adoptavam dois tipos de comportamento para com as suas mulheres: ou se serviam delas para as mostrar aos amigos (o típico: a minha é maior que a tua) ou, pelo contrário, escondiam-nas dos olhares de terceiros, por ciúmes ou sentimento de posse (inseguranças, no fundo). Que num e noutro caso a mulher era tratada como objecto, quando na verdade deveria ser tratada como sujeito, de igual para igual.

Obviamente que com pouco mais de 10 anos achei aquele sermão um pouco exagerado (sobretudo dito na própria celebração de um casamento). Mas passados 20 anos, o padre Manel morto há cerca de metade, compreendo finalmente o que quis dizer.

Estava eu no outro dia na passadeira do ginásio quando entrou um casal pouco mais velho que eu. E depressa compreendi que o senhor estava muito mais aplicado na coreografia de fazer com que a mulher não ficasse ao lado de nenhum homem na passadeira, na bicicleta, na elíptica, do que propriamente no desempenho do seu exercício. E não percebo porquê. Não me parece que alguém que esteja a correr se vá pôr a apalpar quem corre a seu lado e, no caso de a querer comer com os olhos, tanto faz quer esteja a seu lado como a meio metro de distância.