sábado, 24 de março de 2012

A morte

Ontem à noite, uma insónia fez-me pegar no livro que tinha na mesa de cabeceira, o qual me tinham emprestado havia tempo. A Morte, de Maria Filomena Mónica, que toda a gente saber ser um bocadinho tonta. No entanto, ao longo de poucas dezenas de páginas, sintetiza as questões fundamentais - as dúvidas, sobretudo, acerca da eutanásia e do suicídio medicamente assistido. Aborda, para isso, a morte do ponto de vista histórico, filosófico e literário - umas pinceladas que deixam a desejar. Mas sobretudo, de dois pontos de vista importantes - um, daquele de quem um dia poderá passar pela necessidade de continuar vivo sem querer, por não ver reunidas as condições que considera necessárias para o fazer com o mínimo de dignidade (e digo dignidade propositadamente, pois se dissesse qualidade estaria ainda a ser mais exigente). O outro, por quem já passou pela possibilidade eventual de o fazer relativamente a um familiar querido. 
Obviamente, este é um tema fracturante e, apesar de já ter uma opinião formada acerca da questão, este livro adiciona algumas questões pertinentes para todo o debate que, por si só, me fazem reflectir sobre elas. O aumento substancial da esperança média de vida; os avanços da medicina e a vida artificial; morte física vs morte cerebral; sociedade actual arredada da perspectiva da morte como uma naturalidade; desagregação, por motivos vários, dos laços familiares votam os idosos à solidão; a inexistência, em Portugal, de cuidados paliativos generalizados e de qualidade, bem como de lares dignos e acessíveis a toda a população.
Estou, mais coisa menos coisa, a meio da vida, um pouco aquém, é certo. Mas passei 9 anos do meu avô e tenho avó e pais e até um irmão mais velho. E se o decidir sobre o nosso próprio corpo parecer-me fácil, relativamente aos que nos são próximos, a questão complica-se. Nem de propósito, num daqueles programas do TLC, não me recordo o nome, colocou-se à mulher de um paciente, idoso, com uma perfuração pulmonar, que estava ligado à máquina e sem reacções, o que fazer. O próprio tinha deixado um testamento vital (não sei em que país isto se passou), dizendo que não consentia ser mantido vivo artificialmente. E o desabafo da mulher, perante as duas opções que tinha diante de si, apenas sabia que ambas eram erradas. 

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