quinta-feira, 12 de abril de 2012

Da realidade

Maria era uma mulher bonita. E sabia-o. Não só o sabia, como tirava prazer dos olhares de gula e luxúria que lhe lançavam. Quando abria a porta ao carteiro, encostava-se na ombreira da porta, mãos atrás das costas, o peito a subir-lhe no decote. Perdia-se de risinhos com o padeiro, enquanto este lhe estendia o troco, fazendo-lhe uma festa nas mãos. Nunca levava a quantia certa. Com o senhor do café, a história era outra. Bebericava o chá de olhos fixos no pobre homem que se derretia à sua frente em salamaleques e pastéis que lhe oferecia em pires de risca azul. 
Fazia-o de propósito. Gostava de ser o centro das atenções. Melhor, gostava de ser o centro da atracção sexual de todos os homens com quem se cruzava. Mas, na verdade, só tinha olhos para o seu Manel. Era pela dele que esperava ansiosamente na sua. Pelas mãos grandes e calejadas que lhe apertassem as coxas, puxassem os quadris, lhe afagasse os seios. Que a inundasse de prazer, dentro de si. Que adormecesse, prostrado, no seu peito. 
Até ao dia em que foram contar a Manel que Maria despertava o desejo de toda a vizinhança masculina da vizinhança. E a inveja feminina, mas isso não lhe contaram. A partir daí Manel pôs-se à coca - os maneios de anca junto ao porteiro, as carícias com o padeiro, os olhares fatais com o senhor do café. Grande puta! A navalha inundou-lhe as mãos de sangue. Matara a única mulher que só o amara a si. 

4 comentários:

Unknown disse...

Excelente. E tristemente demasiado real, demasiadas vezes.

Pedro disse...

Obrigado Menino.

Anónimo disse...

tão bom...;)

Pedro disse...

:)