quinta-feira, 23 de maio de 2013

O pátio

No Liceu onde andei, que já não se chamava Liceu, mas que toda a gente continuava a chamar assim para o distinguir da Escola Comercial, que também já não se chamava assim, para os distinguir das restantes escolas secundárias que não interessavam a ninguém, havia o chamado pátio grande, como em todos os outros Liceus. O pátio grande era, simplesmente O pátio. Poucos dos mais novos se atreviam a penetrar aquele espaço, que não só era frequentado pelos mais velhos, mas também as miúdas mais giras e os gajos com mais pinta, que procurávamos em vão conhecer. Depois veio a faculdade e O pátio foi substituído pelo O bar ou A esplanada que tinha as pessoas mais interessantes (à vista). Juntavam-se as noitadas e um ou outro local (felizmente ainda não se usava o vocábulo spot) que reunia muitos pedaços de mau caminho num  só sítio. O pátio do Liceu multiplicou-se por muitos outros lugares: naquele restaurante ao pé do primeiro trabalho íamos encontrar X (os quadris generosos); atrás do balcão da farmácia (olhos azuis e cabelo preto); e por aí fora.
Hoje em dia não sei o que aconteceu a todos estes pátios. Nem tão pouco, o que aconteceu a todas as pessoas que tornaram o pátio O pátio. Há em mim um sentimento qualquer inexplicável de perda perante a inexorável passagem do tempo. Muito provavelmente, ainda bem. Porque provavelmente casaram, pariram, engordaram, as carnes flácidas, eles carecas e prenhos de sete meses para toda a eternidade. Está na hora de olhar para quem um dia, eu fui O pátio.

2 comentários:

O Peru Ressabiado disse...

Fiquei curiosa com a tua cidade de origem...

Anónimo disse...

E eu acho que a cidade é a minha...