sábado, 24 de agosto de 2013

La voix humaine - A voz humana, Teatro da Trindade

Quem nunca adormeceu com o telemóvel na mão, à espera de um SMS, de uma chamada do amante? Quem é que no dia seguinte mudou a roupa da cama e pôs a mesma, enrolando o telemóvel, na máquina de lavar (isto provavelmente só eu)? Quem nunca deu em doido com o terminar de uma relação?
É sobre isso que Jean Cocteau nos fala. Uma mulher à beira de um ataque de nervos, em conversa telefónica com o ex-amante, que vai casar no dia seguinte com outra.
Levar à cena nos dias de hoje, quando os meios de comunicação sofreram uma enorme evolução desde 1930, um monólogo, cujo principal temática, para além do impacto do abandono e do sofrimento causado pelo fim de uma relação amorosa, obviamente actual, é precisamente o da comunicação tem vários desafios pela frente. Infelizmente, nem todos ultrapassados pela produção em palco no Teatro da Trindade
A interpretação de Cármen Santos pautou-se mais por um monólogo que por uma conversa telefónica  acompanhada de um olhar vago e disperso, condicionado também pela pouca iluminação em palco que impossibilitou a visualização da sua expressão facial. Faltou a exaltação daquilo que faz a peça de Cocteau actual - a profundidade de uma mulher à beira de um ataque de nervos, ao saber-se trocada. Sobretudo quando a encenação, e bem, manteve-se fiel ao tempo histórico da peça, quando as convenções sociais espartilhavam, muito mais do que hoje, não só sentimentos, como a própria condição feminina. Ser-se mulher, abandonada e trocada em 1930, não tem exactamente o mesmo significado que em 2013. E ainda bem.


1 comentário:

iLoveMyShoes disse...

O texto da peça é lindíssimo. E muito bem escrito. Não vi esta encenação (e confesso que nada me puxa a ir ver, nem actriz nem encenador...)