Ontem, para não variar, um dia de merda. Uma hora no trânsito que se faz em vinte minutos. Despachei as tarefas que tinha para fazer em duas horas. O resto do tempo, a trabalhar para mim. Tudo em suspenso. As horas suspensas, nenhuma resposta definitiva. Outra hora para chegar a casa. Ligo o PC e parecia morto. Depois de uma hora, entre troca de mensagens com quem percebe destas coisas, lá ressuscitou. Devia estar em modo suspensão e não voltava a arrancar. Os cigarros acabaram-se. Desço ao café da esquina. Não estava o empregado que ao ver-me chegar me põe o maço em cima do balcão. Não tinham os cigarros de mentol a que me tenho habituado. Eu nunca gostei de tabaco de mentol. Olho para a vitrine. Senti-me como as gordas anafadas que vestem collants que lhes apertam as carnes e olham indecisas para os duchesses e para os São Marcos, cheios de chantilly, sem saberem qual deles querem que lhes enfeite os cantos da boca de gordura branca e que lhes colmatam as carências. Fui habituado a não ter de escolher. Eu e o irmão dividíamos sempre milimetricamente os bolos. Cada qual ficava com metade de dois bolos diferentes. É bom ter irmãos que nos ajudam a fazer escolhas. A fazer não escolhas. Não tinham brisas, não tinham delícias folhadas. Eu também não gostava de tabaco de mentol. Pedi para me embrulhar um folhado de gila e uma bola de Berlim, com açúcar à séria. Voltei para casa. Deixar o melhor para o fim. O folhado? A bola de Berlim? A vida é feita de escolhas e eu sempre fiz não escolhas. Enquanto isso, a vida está suspensa.
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3 comentários:
Eu sei que vai tarde e os bolos já nem devem existir, mas fica o conselho de quem, tendo também irmã com quem dividir tudo, incluindo bolos, continua a fazer dessa forma de estar um "modo de vida":
- dividir, milimetricamente, os dois bolos, comendo metade de cada um; as outras metades não duram muito, garanto!
Muito bonito!
MDB: :))) (não, não sobrou nenhum)
Pedro: fico contente por isso
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