Não pertencemos a lado nenhum, nem tão pouco um ao
outro. Faço-te as malas. Pego na tua roupa, espalhada pela casa. As camisolas
com o teu cheiro. O teu pijama. Nunca soube dobrar roupa, as camisolas não vão
ficar direitas, eu não sei dobrar roupa, não quero dobrar a tua roupa, sei que
vais reparar, morder os lábios para não comentar, vou fechar os olhos para que
não repares, culpo o gato por as camisolas estarem com pêlo, o tempo não passa,
o desconforto fica agarrado à pele, o nó na garganta adensa-se e não consigo
pensar. Parece que nasci para dobrar roupa, para fazer as malas, as tuas
roupas, as tuas malas, as roupas e as malas de quem partilhou a minha cama, o
meu quarto, a minha vida, de quem já partiu, de quem nunca ficou, mesmo que quiséssemos
ficar, nós sempre quisemos ficar, nunca fomos de partir. São os teus pertences,
eu já não te pertenço, a chuva cai lá fora, mas não leva consigo o desconforto,
tu sais apressadamente, a porta fecha-se atrás de ti, nós não somos de parte
nenhuma, apenas ficamos ou partimos.
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1 comentário:
:s
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