quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Another suitcase in another hall

Não pertencemos a lado nenhum, nem tão pouco um ao outro. Faço-te as malas. Pego na tua roupa, espalhada pela casa. As camisolas com o teu cheiro. O teu pijama. Nunca soube dobrar roupa, as camisolas não vão ficar direitas, eu não sei dobrar roupa, não quero dobrar a tua roupa, sei que vais reparar, morder os lábios para não comentar, vou fechar os olhos para que não repares, culpo o gato por as camisolas estarem com pêlo, o tempo não passa, o desconforto fica agarrado à pele, o nó na garganta adensa-se e não consigo pensar. Parece que nasci para dobrar roupa, para fazer as malas, as tuas roupas, as tuas malas, as roupas e as malas de quem partilhou a minha cama, o meu quarto, a minha vida, de quem já partiu, de quem nunca ficou, mesmo que quiséssemos ficar, nós sempre quisemos ficar, nunca fomos de partir. São os teus pertences, eu já não te pertenço, a chuva cai lá fora, mas não leva consigo o desconforto, tu sais apressadamente, a porta fecha-se atrás de ti, nós não somos de parte nenhuma, apenas ficamos ou partimos.