quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Os velhos hábitos


Os velhos hábitos são difíceis de se perder. Em Verões passados, em peregrinação pelo Alentejo que me faz sentir em casa, das planícies a perder de vista, chaparros ou oliveiras solitários no cume do monte, em cada aldeola em que parávamos, depois de adormecer no carro, noites curtas, almoços completos, carros quentes, apeávamo-nos na praça central, coroada pela Igreja Matriz, pela capela, geralmente fechadas. Não perdi o hábito de verificar se as portas estão fechadas nas Igrejas onde passo, se estão apenas encostadas, apanhando desprevenidos os olhares de quem passa, cuidando que estejam realmente fechadas. Deve ser bom ter uma porta que se fecha, qual interruptor, que liga e desliga, abre e fecha, para a realidade desinteressante que quer debruçar em nós, nossos olhos fechados. 
Sempre fechada, a capela da Senhora da Saúde, todas as vezes que lá passei. Ontem foi diferente; pude entrar e parar para rezar. Os velhos hábitos são difíceis de perder. Uma moeda para S. Sebastião, santo de um dos nomes lá de casa; pedir três pagelas, como de costume. Os velhos hábitos são difíceis de perder; uma para mim, outra para a Mãe, outra para a Avó; só depois me lembrei que a esta já não lhe faz falta nem pagela, nem saúde, nem Mãe, ao contrário de mim, que tenho de reaprender quantas pagelas pedir, nas Igrejas cujas portas estão apenas encostadas.


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