Carrossel da Feira da Luz, 2014, porque na maior parte das vezes damos voltas sem sair do sítio.
Toda a gente sabe que balanços, comigo, é mais isto. No
entanto, este ano foi tão sui generis
que é impossível não parar um pouco e reflectir sobre ele.
2014 foi o meu ano montanha-russa. Completamente bipolar. De
altos e baixos, de choro e riso profundos.
Terminei uma relação amorosa duradoura, que eu julgava
fazer-me feliz (a pensar morreu um burro).
A última das minhas avós sobrevivas morreu; aquela de quem fui mais próximo, de
quem tive medo sequer de imaginar o dia da sua partida (e tudo o que isso implica).
Discuti com familiares próximos, ouvi coisas que me magoaram, sobretudo por
serem injustas.
Por outro lado, encetei um novo relacionamento que me faz
feliz; defendi a minha tese de doutoramento e a coisa correu tão, mas tão bem,
que até pareceu mentira. Até foi premiada e tudo.
A vida também é feita de pequenas coisas. 2014 foi também o
ano em que redescobri o prazer de me deitar na relva; que dei uma nova
oportunidade aos brunchs (mas sem o
ar deslumbrado); emocionei-me a ver obras de arte, deixando que a sua mensagem
falasse mais alto que a sua beleza; adormeci serenamente enroscado à
cara-metade; fiz coisas pela primeira vez, como ir à revista, à zarzuela ou ter um blind date com uma leitora do blog; em
que me deixei receber todo o apoio que os amigos me quiseram dar em momentos de
maior fragilidade; voltei a andar de carrossel; fui a um concerto de Quim
Barreiros e a outro de Luz Casal; fui a festas giras com outros bloggers e a outras festas giras sem bloggers; em que regressei à Igreja onde
fui baptizado; fiz coisas em público as quais não se confessam publicamente;
foi o ano em que comecei a levantar-me cedo aos fins-de-semana e com isso
aproveitá-los da melhor forma possível; em que saí só com a cara-metade e
dançámos e divertimo-nos até cairmos; em que fui ao baptizado do filho de uma
amiga dos tempos de liceu; em que voltei a não ganhar o BILF; em fiz a
apresentação de um livro no lançamento do mesmo; fui a um país onde nunca tinha
ido e regressei a outro com mais tempo para o conhecer melhor; em que fiz
amigos entre os animais da Gulbenkian; que terminei um curso que adorei e
comecei outro que estou a gostar bastante; em que conheci novas pessoas e fiz
novos amigos. Os exemplos multiplicar-se-iam.
Contudo, nada disto foi realmente o meu 2014. A pergunta
certa é: então Pedro, afinal no que te tornaste ao longo deste ano, de Janeiro
a Dezembro? Porque todas estas experiências acima nada valem se não tiverem
repercussão naquilo que és. Esta deverá ser a verdadeira reflexão.
Pois bem. 2014 foi definitivamente o ano em que fui mais eu.
O que dito assim parece ser uma daquelas coisas simples e óbvias ditas por um
qualquer livro piroso de auto-ajuda. Ou pior, daquelas imagens com frase
daquela editora com nome de poeta e de largo que não vou dizer o nome.
Na verdade, trata-se tão somente da minha auto-determinação
e assertividade. No fundo, fazer respeitar e seguir o que o nosso coração nos
dita. Ouvir-nos a nós próprios em vez de seguir o que os outros nos dizem (ou
que desejam, que vai dar ao mesmo). Deixar-nos de todo e qualquer
constrangimento, seja o politicamente correcto ou o socialmente aceite.
Expressarmos o que verdadeiramente somos, sem receios, sem a insegurança de não
sermos aceites pela nossa própria natureza. Isto implicou mostrar as nossas fragilidades
e aceitar incondicionalmente a ajuda de quem lá estava a estender a mão, o que
permitiu consolidar algumas amizades, embora a maior parte delas não precisasse
dessas provas de fogo. Mas também implicou mostrar as nossas mais-valias, sem
falsas modéstias e não sentindo o orgulho como um sentimento negativo. Implicou
sair muitas vezes da minha zona de conforto, em acreditar mais em mim mesmo e
nas minhas capacidades e ultrapassar aqueles que eu achava que eram os meus
limites, as minhas fronteiras, que afinal estão muito mais além daquilo que eu
pensava.
Todavia, este não é um trabalho acabado. Mas é por isso é que há sempre
um amanhã, um ano novo. E Paris.
3 comentários:
Chama-se a isso viver e nada como investirmos em nós, nas nossas escolhas. Esquecemo-nos que somos mortais, que o nosso tempo é finito e que o que guardamos para um dia fazer talvez nunca chegue... E o que importa somos nós. Moralidades bacocas, bons costumes, e o que os outros vão pensar limitam-nos o eu e não nos deixam viver.
Um bom ano Pedro
No final... We all have Paris:))
E já foi muito, o que conseguiste no ano que passou. Votos que este novo te mantenha esse novo olhar para ti (a quem não conheço, mas gosto de ler).
Bom Ano!
Obrigado AC e Maria! Um óptimo ano para ambas!
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