segunda-feira, 14 de março de 2016

"Não tira o batom vermelho"



Lembro-me perfeitamente da primeira vez. Estávamos a descer a sua rua, de carro. O tema da discussão, imagine-se foi um esquentador. Devíamos namorar há cerca de um mês. Tudo quando disse que o meu esquentador não precisava de mudar pilhas pois tem um sistema qualquer que a própria propulsão da água acciona o isqueiro e, consequentemente o piloto automático. Só me lembro de começar aos berros comigo, onde já se viu o disparate, existir tais coisas. Achei tão absurda a reacção e sobretudo a discussão tão insignificante por a merda de um esquentador, que me calei. Não gosto de perder tempo em discussões parvas. Sei que mais tarde, não nesse dia, mas no dia seguinte, confirmei que de facto existia tal sistema, pasme-se e que o meu esquentador era um desses. Depois do confronto com este dado, nunca me pediu desculpa, quer pela insistência no disparate, quer pela gritaria, nada. 


A segunda não sei quando foi, se foi a propósito do jantar que era eu que tinha sempre de fazer, mesmo que fosse lá em casa. Levado por mim. Obviamente, a discussão começou a partir do momento em que eu ficava exclusivamente responsável pelos jantares em minha casa. 

A terceira não me recordo ao certo acerca do que foi. Mas sei que foi suficientemente grave. Estava lá em casa e comecei a arrumar as coisas para me ir embora. Na minha cabeça só pensava: não fico nem mais um minuto aqui. Ao ver-me de mala e cuia, o discuso mudou para um “vamos falar e resolver isto”. Não sei o que me passou pela cabeça para ficar, muito provavelmente – se calhar estou a ser demasiado rígido e severo. Não, não estava. 

Outra aconteceu a propósito não sei de quê. Não me lembro se estávamos na cama, logo depois de acordar, para num instante estar em choro convulsivo e a pergunta, se eu também achava que erauma pessoa fria, intratável, sem escrúpulos, egoísta. 

A pior estava ainda para vir. Num fim-de-semana em casa de amigos seus, depois de fazer um escândalo (motivados por ciúmes nunca assumidos) e acabar por não sair comigo e com os seus amigos acusa-me de ser leviano (!), ter estado demasiado descontraído (!). Na verdade, estava apenas a ser aquilo que era: eu próprio. Sem controlos. Levaria meses para colocar fim a esta relação onde até mesmo o sexo e também o afecto escasseava. Levaria muitos mais a perceber o que realmente se passou comigo e a simples explicação de estarmos apaixonados que nem um calhau com olhos não cola. 


Este é o vídeo que todos deveríamos ver.


(se não conhecem a Jout Jout, ganhem algum tempo em ouvi-la, nem sempre o tom é tão sério e tão oportuno quanto este)


3 comentários:

menina disse...

Não conhecia esta senhora,mas infelizmente conheço algumas pessoas que têm uma relação assim... E se falamos alguma coisa,nós é que estamos mal,nós temos inveja da relação deles....

Agridoce disse...

Já tinha visto outros vídeos dela, mas não este. E é tão pertinente e tão real!... Há tanta gente a passar por alguma ou muitas das coisas que ela refere, e que não percebe o que se está a passar!...

Fátima disse...

Não conhecia, mas gostei! Obrigada por mostrares.