terça-feira, 19 de novembro de 2019

Dos afectos, do passado e doutras coisas que tais

Por vezes regresso aqui, a um passado cristalizado que me ajuda a relembrar quem fui, quem verdadeiramente sou. Procuro um texto em especial, escrito há sete, oito, nove anos por estar a sentir ou pensar no momento presente aquilo que me fez escrever nessa altura. Entro silenciosamente, sem fazer barulho, sem ninguém dar conta da minha presença. Relembro outros textos, outras histórias, outra vida. Sorrio com alguns comentários. Aqueço as mãos à lareira do vosso carinho. 
Às vezes tenho vontade de aqui escrever. Outras, de começar um novo blog. Para um e para outro outro, falta-me tempo, que o trabalho tem vindo a consumir. A minha vida está diferente. Eu estou diferente. O mundo está diferente. Este Pedro que agora vos escreve, não é o mesmo que aqui escrevia. Demasiadas coisas me modificaram desde então. Tenho crescido à força de muita dor - nascitura estava sem faca nos dentes... e isso tem-me feito esquecer de quem sou, afastado da minha essência, que está aqui toda escarrapachadinha.
Dia 23 de Outubro quis cá voltar. Não por saudades do blog, da escrita, mas das pessoas que me seguiam, dos amigos que fiz, pela leitura mútua, pela partilha. Era dia mundial do ballet. Tenho agora 40 anos, cabelos e barba brancos, excesso de peso e comecei este ano a ter aulas, pela primeira vez na vida, de ballet. Para assinalar o dia, partilhei uma foto minha com as sapatilhas calçadas numa rede social. Entre comentários parvos, estavam os likes de bloggers que me acompanharam desde o início do wahparis. Os vossos, portanto. Em cada um desses likes, senti a vossa empatia, mais do que os dos amigos reais de todos os dias e claro, de seguidores anónimos que roboticamente apenas colocam likes em fotos bonitas. Talvez a culpa seja minha, que me despi aos vossos olhares mais do que faço no dia-a-dia. 
O tempo dos blogs foi um tempo especial. Vós sois especiais. Nesta ausência, sei que não fui só eu a nascer novamente; vocês também têm tido partos difíceis. Por isso, este post não é apenas um agradecimento da vossa empatia, é também um reconhecimento das vossas dores, mas também da vossa força, coragem e resiliência. Estamos juntos nisto, seja o que for que o futuro nos reserva. We'll always have Paris.

9 comentários:

luisa disse...

Muitas vezes penso nos primeiros blogs que conheci e segui quando há dez anos resolvi criar um, e que entretanto pararam as publicações. E penso sempre no We will always have Paris, até porque o Pedro foi quem primeiro se postou na minha janela de seguidores, evento que me surpreendeu - afinal alguém tinha dado por mim nestas andanças. :)
Saúdo o seu regresso, aqui ou noutro blog. Se for noutro, avise. :)

Netas da Casa Azul disse...

De vez em quando venho cá, que bom ler palavras atualizadas. O último post do Pedro, antes deste regresso, foi no dia em que a nossa Avó morreu. Coincidência despertada num post que fala de passado, mudanças, vidas diferentes...
Por cá continuaremos.

Cat disse...

Nem queria acreditar quando li este post. Hoje abri o meu antigo blog exatamente pelas mesmas razões que descreves, tinha saudades de mim, procurava uns posts em particular, procurava-me... abri uns comentários e tinha um teu, resolvi passar por cá e apanho este texto e vejo ainda a tua nova experiência com o ballet. Que coisa boa reler num espaço onde já fui tao assídua e onde me sentia tao acompanhada. Vai voltando e boas aulas de ballet!

c. disse...

E tão bem que sabe ir percebendo que a velha guarda da blogosfera não arreda pé, nem fecha a porta. Foi ali mas continua também aqui. Seja como for, ficarão sempre as palavras, como sombras do que fomos. Ou como mapas para consultarmos a cada vez que duvidarmos do caminho. Obrigada pela coragem de arriscar nas aulas de ballet. No fundo é isso: não deixar nenhum sonho no papel.

silvestre disse...

Tem piada que tendo começado este blogue como terapia pessoal em 2006, também gosto de ir "lá atrás" ver como era. Não consigo abandonar o Silvestre porque é a minha história de vida (alguns posts só eu sei o que significam) e como deixar de viver também. ter deixado de ser anónimo para algumas pessoas reprimiu o teor pessoal dos meus textos, mas só isso. às vezes também penso que não tenho tempo, mas isso não é verdade. Temos sempre tempo, não podemos é deixar cair certas coisas da nossa arenas de prioridades. O silvestre já ficou ali do outro lado da linha, mas depois lembro-me do que ele foi/é e somos os dois. Juntinhos. :)

ps. parabéns pelas aulas de ballet.

Pedro disse...

Obrigado por continuarem "desse" lado. Não sei se é um regresso, mas... Para que saibam, continuo a ler-vos, embora raramente comente; pode ser que isso também mude.

Pólo Norte disse...

Adoro-te.

Pólo Norte disse...

Adoro-te.

GR disse...

Ora bem... Fechei a barraca há meia dúzia de dias, mas está tudo guardadinho e quantas vezes - quantas! - faço precisamente o que descreves. Podia ter feito eu essa tua reflexão sobre a era que então vivemos e que agora parece estar muito muito lá atrás no tempo. É bom sabermos-nos acompanhados. (E gostei de saber que ainda por aqui andas a bulir!)
Um beijinho, for old times' sake.