quarta-feira, 27 de julho de 2011

Carmen à Lisboeta

Tomei conhecimento de que no início do século XX existia em Lisboa um número considerável de cigarreiras. O que me deu logo a ideia de produzir uma Carmen passada em Lisboa, no início do século XX.

As personagens:
Carmen não precisava de ter tornozelos finos para dançar flamenco, bastava saber traçar um xaile porque seria, além de cigarreira, cantadeira de fado, das que teria virtude, porque até saberia o fado da Senhora da Saúde. 
D. José e Micaela seriam de Viseu, portanto só teriam de preocupar com o sotaque. É pena não existir sotaque em Alcochete ou Vila Franca porque, assim sendo, Escamillo também o teria. E seria forcado e não toureiro.

Os espaços:

Praça junto à Fábrica de Tabaco: não faço ideia onde seria, provavelmente em Xabregas, mas o Rossio parece-me bem. Duas fontes em palco dão outro sainete.

Taberna: Não há outra hipótese senão pô-la em Alfama, onde se canta o fado. Com menos toureiros e com mais marinheiros, tatuados de preferência, para dar um ar credível à coisa. Com uma mamalhuda desnudada, a piscar o olho ao quadro do Malhoa e ao busto da República.

Refúgio dos contrabandistas: fica longe de Alfama, mas acho que Campolide, junto ao Aqueduto das Águas Livres, para que não haja dúvida que a acção se passa em Lisboa (isto não tem de ser credível, tem é de se pensar em bons cenários).

Praça de Touros: esta é fácil, a Praça do Pequeno, mas sem centro comercial.

Pormenores:

Em vez de uma habanera, obviamente um fadinho. Picadinho, que o Menor de sensual não tem nada.

A flor que D. José atiraria só pode ser uma bela sardinheira encarnada, tirada de uma qualquer sacada da janela.

No lugar da seguidilha, o malhão de Águeda.

Na taberna, cujo taberneiro se chamaria Quim d'Adega, não se beberia manzanilla, mas sim vinho carrascão, em copos de 3.

Os bandidos seriam traficantes de armas, para a causa republicana (deve haver algures toureiros republicanos).

As cartas usadas para lançar a sorte seriam das que se compras nas feiras por esse país fora e que fazem sucesso nas festas, daquelas com gente despida.

O coro de criancinhas no final seria substituído por um grupo de cantares alentejano.

O dueto final incluiria a estrofe popular: “O anel que me deste era de vidro e partiu-se; o amor que tu me tinhas era pouco e acabou-se”. Obviamente de prata dourada (um sargento pouco receberia), comprado na Leitão & Irmão.







4 comentários:

Kelle disse...

De toda a descrição tenho apenas um reparo a fazer, atenta na letra da música a seguir: “O anel que me deste era de vidro e quebrou-se; o amor que tu me tinhas era pouco e acabou-se” :)

Pedro disse...

Realmente não me estava a soar nada bem, mas cultura popular não é o meu forte :P

Obrigado Kelle!

Kelle disse...

É por isso que eu aqui ando a ler o que escreves, para ajudar na sabedoria popular :)

Pedro disse...

Haja alguém que leia tanto disparate :P