Morreste-me. Morreste-me no dia em que deixámos de falar a mesma linguagem, quando os nossos olhares deixaram de ter significado de um para o outro. Morreste-me quando deixei de te compreender como até então, como se até então fizesses parte de mim, do meu corpo, como as minhas mãos que te afagavam ou os braços que envolviam quando querias colo. Morreste-me quando nos transformámos em estrangeiros um para o outro.
Morreste-me. Morreste-me quando te foste tornando irreconhecível, quando me tornei irreconhecível para ti. Morreste-me quando a amizade que tínhamos um pelo outro se transformou em outra coisa qualquer que já não era amizade. Apenas uma herança longínqua de tempos felizes que se extinguiram. Morreram as gargalhadas em uníssono. E eu não sei o que fazer com os nossos cadáveres.
23 comentários:
Pois, os cadáveres. Cremar, deixar apodrecer ou mumificar? É a pergunta que faço a mim mesma também. Belo texto :)
Guardar no armário e esperar que a chave desapareça?
É bom ver um texto sentido por aqui...
Gostei do texto, sobretudo do fim. E da música fúnebre a acompanhar.
Oh!
Segundo a teoria de que nada se perde, tudo se transforma, uma morte é sempre uma nova vida.
Os cadáveres enterram-se, toda a gente sabe isso. E, depois do luto, as memórias acabam por se tornar doces.
Parabéns, Pedro, o texto está lindo.
Não me faças chorar...
Obrigado. São mais as perguntas que as respostas.
Isso é o que tenho feito, sem resultados...
Sentidos são todos, mesmo os mais disparatados. Mas nem sempre estamos virados para os lirismos ;)
Obrigado Catarina
Por vezes as coisas têm de sair cá para fora e partilhar as dúvidas
Sem dúvida. Nem sempre estamos é preparados para essa nova vida :)
Obrigado Stiletto. Se calhar as memórias é que estragam tudo, por serem doces. Se fossem amargas... era tão mais fácil!
Preparados estamos. Às vezes, o problema é lutarmos desesperadamente contra essa nova vida... Por ainda estarmos agarrados a estes cadáveres.
Não te quero a chorar, mas pelo menos fiz-te aparecer ;)
É verdade, tens toda a razão ;)
Percebo perfeitamente. Não sabe, porque no fundo não está preparado para esquecer.
Ai lobe you! <3
Pedro... Pedro...
Não te morreu, ainda vive dentro de ti. E enquanto há vida há esperança... resgata o que podes, como podes... sentimentos assim não morrem, nem sequer se guardam porque não cabem dentro de nós.
Luta... porque será muito, muito dificil voltar a encontrar alguem por quem valha a pena lutar...
Bjo
Incrivel como este texto diz tudo o que sinto agora.
Incrível como assim de repente 'esbarrams' com algo assim. Escrito como se fosse eu, se eu o soubesse fazer.
Excelente escrita. Parabéns!
Autch, tropecei neste teu texto agora e lembrei-me.... de um "morreste-me" também
http://dosmeussaltosaltos.blogspot.pt/2009/03/morrestes-me.html
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