Conheci a Clarinha há mais de 25 anos atrás. Da minha idade, mais coisa menos coisa. Então filha única (não sei se terá tido mais irmãos, penso que não), vivia no Porto e passava férias onde eu então passava, no Portinho da Arrábida. Nesse verão, não devíamos ter mais do que sete anos, a mãe da Clarinha sofre um acidente num dos caminhos de rocha que vão dar a uma das praias mais escondidas junto ao Portinho (e a melhor, claro está). Esvaindo-se em sangue, é encaminhada para o Hospital.
A mim, incumbiram-me a missão de distrair a Clarinha. Acho que vem daí a minha forma de reagir aos acidentes. Trabalho muito melhor nos bastidores, do que a expor-me ao acidente em si. Como quando a cozinha de casa de meus avós ardeu. Não consegui apagar o fogo com o pequeno extintor caseiro, não consegui sequer ligar para o 112, porque as mãos tremiam-me. Mas consegui levar o meu avô em cadeira de rodas, devidamente protegido com panos humedecidos por causa do fumo de casa, para um sítio seguro.
Da Clarinha, com quem troquei algumas cartas e postais de Natal ainda durante algum tempo, perdi o contacto. Mas continuo a ser muito melhor a trabalhar nos bastidores.
2 comentários:
E não é sinal de fraqueza. É o bastante. Abraço
Todos somos precisos, cada um no local onde é mais eficiente.
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