Era uma história que se contava há uns anos. A senhora de X,
não me lembro o nome, colunável, quiçá ex-cabeleireira ou ex-manicure – há todo
um mito urbano sobre ex-cabeleireiras ou ex-manicures que subiram na vida,
fizeram casamentos vantajosos, aparentemente felizes, com direito a criancinhas
e porta de casa aberta para as revistas do social – resolve dar um jantar para
a sociedade respeitável de então, aquela bem-nascida, mas que por acaso do
infortúnio se viu obrigada a aceitar no seu círculo de relacionamentos as
ex-cabeleireiras ou ex-manicures, agora bem na vida, casas compostas, maridos
anafados.
Pratas, cristais, linhos, companhias das Índias, belas
iguarias, ainda ninguém servia foie-gras com geleia de laranja amarga, muita
coisa se aprende, a senhora de X tão bem recebe.
No final do jantar, a surpresa há muito preparada pela
anfitriã, reúne os convidados à volta do local hierofânico por excelência nos
salões – a lareira. Por cima do fogo, um pano, talvez veludo, encobre algo que
depressa a Senhora de X revela, puxando-o para baixo. Um retrato seu.
Bravo, Senhora X. Conseguiu pôr Lisboa inteira a falar de
si, por décadas. Ser alvo de chacota é também uma forma de dar nas vistas.
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