quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Libertação

Por vezes tenho uma vontade súbita de começar um outro blog, sem leitores, onde ninguém me conhecesse, onde fosse de facto anónimo, onde ninguém me compreendesse verdadeiramente e assim não dar azo a mal-entendidos e dizer realmente tudo o que penso como os malucos, sem qualquer consciência do outro, como se este não sentisse, não pensasse, não existisse. Uma espécie de nascer segunda vez, começar tudo do zero, emigrar para um novo país, uma nova cidade, sem constrangimentos alguns, o desconhecido, o horizonte como limite, sem qualquer contacto com o passado. Mas este agarra-se a nós, pastoso, como a poeira que assenta nos corpos transpirados, cansados dos mesmos movimentos, dos mesmos gestos, dos mesmos hábitos, da mesma rotina, da roupa que já não nos serve, das bengalas que já não precisamos para nos apoiar. A mais difícil libertação é a de nós mesmos.


5 comentários:

Palmier Encoberto disse...

Pedrinho... que ingenuidade... :)

(por mais voltas que se dê, estamos sempre lá, nas nossas palavras. Um bocadinho como os cães a correr atrás da cauda. Bem podemos correr, que não saímos do mesmo sítio... e a cauda lá está, a abanar, para nos denunciar na primeira curva :)

Pedro disse...

Bem sei, por isso é que nunca criei outro blog ;)

Pólo Norte disse...

Não resulta.

A impressão digital é a mesma e o bairro tem sempre os mesmos moradores.

Pipoco Mais Salgado disse...

Pedro, das duas vezes que o fiz, fui descoberto ao fim de meia hora de blog. Temos uma impressão digital na escrita, ao que parece...

Lobo disse...

Foi o que fiz. E o meu blogue do passado ficou lá atrás. Bem distante.