quinta-feira, 13 de março de 2014

O fim de uma era


Pensei muito se escreveria ou não não este post, pelo excesso de exposição. Mas, ao fim ao cabo, se não escrever aqui o que sinto, este blog deixa de fazer todo e qualquer sentido.

Teria uns três, quatro anos, quando a psicóloga me pediu para desenhar as duas pessoas quem mais gostava. Perguntei se só podiam ser duas, se não podiam ser quatro, só podiam ser duas, acabei por desenhar os meus avós maternos, o que certamente terá provocado algum desconsolo aos meus pais. 
Esta ligação não consigo explicar. Apesar de serem avós muito presentes e de, a partir dos meus oito anos, viverem no mesmo prédio que eu, não se pode dizer que tivesse sido por eles educado ou que tivesse com eles coabitado. 
Esta proximidade fez-me durante anos recear a sua perda, sobretudo com a sua velhice e o agravamento do seu estado de saúde. As sucessivas operações da avó, o acamamento do avô, desde os meus 15 anos. Desde essa idade que tenho vivido com o coração nas mãos, sempre a pensar que, em cada recaída, se iria dar a sua perda inevitável. Imaginamos sempre como será o dia da sua morte, se vamos ser capazes de ultrapassar facilmente essa perda. Nunca estamos preparados para a perda. Nunca estamos preparados para a morte, para lidar com ela, escondêmo-la, fugimos dela sempre que podemos. O avô partiu há nove anos, a avó no passado domingo. 
Agora sim, sinto que me tiram as raízes da terra. A partir de agora não vou saber mais os truques para tornar aquela receita infalível. Os objectos físicos que atentam um casamento, uma vida em comum, uma linhagem, um clã, vão ser separados, infelizmente outros vendidos. Os segredos de família que ficaram por contar. Os álbuns de fotografias, onde habitam pessoas, vão passar a ter rostos de desconhecidos, para sempre desconhecidos. 
Mas, no meio da dor, que há-de passar, das saudades que nos hão-de atormentar para sempre, da inevitabilidade da perda de conhecimento, o cenário que traçámos para estes dias não se cumpriu. Vamos buscar forças não sabemos onde, a cada momento saímos para muito além da nossa zona de conforto. E depois... depois temos o apoio de quem nos quer muito, de outras árvores que nos amparam e nos fazem sentir que não estamos nem sós, nem isolados. Este caminho é sempre partilhado. 

24 comentários:

José Daniel Ferreira disse...

Belo texto e fizeste bem em escrevê-lo. Assim poderás reler sempre que necessitares. E isso irá acontecer, de tempos a tempos.

Beijinhos

A Loira disse...

Um beijinho Pedro.

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Força Pedro :)

disse...

Pedro, infelizmente é a lei da vida e por mais que pensamos estar preparados, nunca estamos. Quanto à saudade...só compreendi o verdadeiro significado da frase "Saudade Eterna" quando senti a dor do tomar de consciência de que nunca mais estaria com aquela pessoa, a mais importante da minha vida, e que a partir dali seriam apenas as recordações...um dia de cada vez.
Fica bem. Um beijinho

Olive Tree disse...

Beijinho Pedro

Buxexinhas disse...

Lamento Pedro... As raízes foram transmitidas e permanecem em ti. Um beijinho grande e força.

Sexinho disse...

Não te importes por ter ficado com as raízes a descoberto; é agora que não estando presas a nada mas contendo tudo, vais poder voar mais alto e mais longe.
Um abraço muito apertado.

Lipa disse...

Um beijinho.

Isa disse...

Beijo grande, abracinho.

Lia disse...

Deixo só um beijo. Eu vivo "o mesmo" com os meus avós paternos e estou neste momento à espera "do dia" de um ou outro... (sinceramente, é desgastante não ter nem ideia de quem irá primeiro, mas saber que um ou outro não tardará)

A Mais Picante disse...

Um abraço apertado Pedro.

Ricardo disse...

Abraço.

A. disse...

Beijinho grande.

Izzie disse...

Um grande beijinho.

Ana Oliveira disse...

sei exactamente pelo o que estás a passar.
Contigo. mais do que nunca !

Helena Araújo disse...

Um beijo, Pedro.
É muito duro por tudo, e também por todas essas perguntas para as quais já ninguém conhece as respostas. A morte leva-nos as companhias queridas e amputa-nos a História.

Palmier Encoberto disse...

Um grande, grande beijinho, Pedro.

netasdacasaazul disse...

um beijinho e muita força

jo goes to Australia disse...

Compreendo-te, no dia que a minha avó morreu foi o dia que a minha infância acabou. Sempre foi a minha mãe, para mim, no meu coração e sempre achei injusto ter uma mãe tão mais velha que as outras mães. Sempre soube que não iria ter o privilégio de a ter comigo tantos anos como as mães estão por norma e não consigo aceitar ainda, mesmo passado 1 ano e meio depois. A saudade é um peso enorme, o saber que os filhos nunca vão conhecer aquela pessoa extraordinária...O pior é querermos lembrar da voz, do cheiro e com o tempo começa a ser mais e mais difícil mas a dor suaviza. muita força mesmo, do fundo do coração.

Netas da Casa Azul disse...

O "Uns têm filhos, nós temos avós" deu-nos a conhecer muitos netos, entre eles tu, que te "apresentaste" a nós no dia de anos da nossa avó. E é injusto que eu esteja agora a comentar este post, mas por saber o que é viver com o coração nas mãos e antecipar a dor que deves estar a sentir, precisava enviar-te um beijinho de muita força.

Lobo disse...

Muita força. Tudo o que se possa dizer neste momento, será pouco ou insignificante, mas espero que consigas perceber que ela viverá sempre na tua memória e daquelas que a amam e se lembram dela. Forte abraço.

Nada disse...

Partilho o sentimento...a minha avó viveu toda a minha infância comigo e hoje apesar de já não habitar com a minha familia penso constantemente em tudo o que ainda tem para me ensinar e não estou lá 24h por dia para aprender. Com o avanço da idade vejo toda a minha familia a envelhecer...é assustador. é aprender tudo o que podemos e continuar...que outros olham para nós como os que terão algo a dizer um dia.
Sinto muito a tua perda.

GR disse...

Um abraço, Pedro, nesta hora difícil.

Pedro disse...

Muito obrigado pelo vosso carinho e vosso apoio, manifestado nas vossas palavras de demonstrações de afecto; certamente que ajudou (e continua a ajudar), a não sentir tanto o frio.