quarta-feira, 26 de março de 2014

Tralhos, esbardalhanços e outros bate-cus

Olhando para trás, o maior tralho físico que dei na vida foi há coisa de oito ou nove anos. Acabadinho de chegar ao Campo Grande, em plena hora de ponta, a sair do autocarro. A calçada estava húmida, a sola dos sapatos devia escorregar e provavelmente o meu inconsciente achou que era o momento ideal para fazer uma entrada (ou saída, depende sempre tudo da perspectiva) triunfal. Quando dou por mim, estava literalmente estendido no chão, sem me conseguir mexer, com a pasta ali mesmo ao meu lado. Não tivesse sido a ajuda de um senhor, vindo sabe-se lá de onde, ao qual estou eternamente agradecido o facto de me ter ajudado a levantar, provavelmente ainda hoje estaria lá estendido. A roupa que vestia ficou naturalmente suja e o meu corpo com nódoas negras doridas, a alma amachucadinha, já para não falar da vergonha, que saiu sob a forma de um riso incontrolável e de um passo apressado, que fingia ser seguro e confiante, focado no trajecto a seguir.

Incontáveis foram os outros bate-cus que já dei, como qualquer outra pessoa, que a vida é isto mesmo, cair e levantar, em modo repeat. As relações que terminam, os empregos que terminam, as várias recusas amorosas e laborais. Hoje foi mais uma. Mas o bom de termos passado por vários esbardalhanços é termos aprendido alguma coisa com eles. Que não adianta perder tempo em atribuir culpas à calçada húmida, às solas gastas dos sapatos, à nossa distracção nem tão pouco a lamentar a nossa situação; que há sempre alguém por perto que nos estende a mão para nos ajudar a levantar e por muito que não saibamos qual o caminho a seguir, sabemos sempre qual é o destino final.

5 comentários:

Unknown disse...

Não sei se sabemos sempre qual é o destino mas é sempre bom haver alguém para nos dar a mão, isso sim.

Mulher Mesmo de Sonho disse...

Sou especialista. Em quedas e em cabeçadas. Das literais.
Rir é sempre um bom escape. Nas literais e nas outras.

A Chata disse...

Faz parte da vida. Importa é que haja lá um senhor para te dar a mão, ainda que vindo sabe-se lá de onde.

Lobo disse...

Gosto do positivismo :)

Anónimo disse...

"ao qual estou eternamente agradecido PELO facto de me ter ajudado a levantar"

Português, ai o português!