segunda-feira, 13 de abril de 2020

Das rotinas e da normalidade

são encomendar o borrego, limpá-lo de gorduras, temperá-lo sexta-feira à noite com alho, sal, colorau, azeite, louro e vinho branco, colocá-lo num recipiente, tapá-lo para que o não deixe cheiros no frigorífico, deitar-me, acordar no dia seguinte, virar a perna do bicho para que a parte superior ganhe sabor, partir as amêndoas de açúcar para o toucinho do céu de amêndoas da páscoa, fazer uma calda de açúcar, derreter o açucar das amêndoas, tirar do lume, temperar os ovos e gemas e juntas as mãos-cheias de farinha, despejar na forma untada e forrada de papel vegetal, colocar no forno, esperar que coza, esperar que arrefeça para desenformar e no dia seguinte tirar a perna do frigorífico, colocá-la numa assadeira com azeite, rodelas de cebola para não queimar, colocar a marinada, ir ao forno, virar a perna, colocar as batatinhas novas com pele, as cebolinhas para assar às quais tirámos a casca, mais as cenouras descascadas, às quais demos uma entaladela em água a ferver; fazer o centro de mesa, não havia cravinas, só cravos, cor-de-rosa, ligam bem com o serviço flor de cedro, estender a toalha de linho bordada pela mãe, pôr a mesa, os talheres estavam areados de véspera, nisto tudo cabe a ausência dos nossos, dos gestos que outros fizeram antes e por nós.

Sem comentários: